Apresentação

"Em tempos de engano universal, dizer a verdade é um ato revolucionário" (George Orwell)







Este blog é um espaço de reflexão e troca de experiências educativas na área de Filosofia para o Ensino Médio. Os materiais aqui postados tem por objetivo subsidiar o estudo tanto de professores quanto de alunos. Os textos serão de autoria própria, ou de autores da área, ou resultado de pesquisas em obras literárias e na web.



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

SOCIALIZANDO UMA EXPERIÊNCIA COM PROJETO EM SALA DE AULA

O trabalho com projetos em sala de aula propicia uma rica e vasta troca de experiências entre alunos e alunos, como também alunos e professor. Tive a oportunidade de vivenciar, por meio da observação e da participação, do desenvolvimento de um projeto educativo na área da filosofia, no Instituto Presbiteriano Vale do Tocantins, do Projeto “Como se constroem as ideologias”, na 2ª série do Ensino Médio.

O projeto tinha como objetivos fazer com os alunos após seu término fossem capazes de conceituar ideologia, interpretar os discursos orais e escritos identificando os indícios ideológicos e identificar os mecanismos sociais utilizados para a construção das ideologias.

Para o desenvolvimento do projeto a professor buscou a interdisciplinaridade com os professores de Artes, História e Português. Da Arte por meio do estudo da música como expressão dos sentimentos, experiências sociais, culturais e ideológicas de uma sociedade. A História enfatizou como cada sociedade de acordo com seu tempo histórico e suas vivências sociais, culturais e políticas constroem seus conceitos, valores e ideologias. A área de Português teve a responsabilidade de auxiliar os alunos na interpretação e compreensão dos textos e hipertextos estudados.

Utilizou metodologias como aulas expositivas dialogadas com apresentação de data show, estudos de textos e hipertextos sobre o tema e de músicas, realização de pesquisas na internet no laboratório de informática e atividades individuais e em grupo. Os recursos tecnológicos como podem perceber pelas metodologias adotadas, fizeram-se presentes no desenrolar do projeto, como o uso de computadores, hipertextos, data show, aparelhos de som e outros.

A utilização do projeto se dos recursos tecnológicos para o trabalho pedagógico com tema proposto tornou a transposição didática dos conceitos de ideologia e como se constroem as ideologias mais dinâmica, atraente e de fácil compreensão por parte dos alunos, observou-se ainda que houve maior envolvimento tantos dos professores das áreas envolvidas como dos alunos. Desta forma, podemos concluir que a utilização de projetos e de recursos tecnológicos facilita e enriquece a execução do processo de ensino e contribui para a aprendizagem do aluno.

Projeto: Como se constroem as ideologias

Projeto: Como se constroem as ideologias

Componente Curricular: Filosofia
Modalidade/Nível de Ensino: Ensino Médio – 2ª Série
Conteúdo: Ideologia

1 Apresentação

Difícil encontrar na ciência social um conceito tão complexo, tão cheio de significados, quando ao conceito de ideologia. Nele se dá uma acumulação fantástica de contradições, de paradoxos, de arbitrariedades, de ambiguidades, de equívocos e de mal entendidos, o que torna exatamente difícil encontrar o seu caminho nesse labirinto. E para facilitar e despertar no aluno o desejo de compreender como nascem as ideologias na sociedade, apresentamos este Projeto Interdisciplinar que irá trabalhar o conteúdo da 2ª série do Ensino Médio sobre Ideologia.

1.1 Justificativa

A compreensão do que é ideologia e de como ela se constrói em uma determinada sociedade não é tarefa tão simples, por isso para trabalhar com esse tema o responsável pela área de Filosofia do Instituto Presbiteriano Vale do Tocantins propôs um trabalho interdisciplinar com as áreas de Artes, História e Português, com o intuito de facilitar e tornar mais atraente e dinâmico o ensino e a aprendizagem desse conteúdo.

1.2 Objetivo Geral

Propiciar situações em que os alunos experiências educativas individuais ou em grupo nas quais poderão identificar como se constroem as ideologias numa determinada sociedade.

1.3 Objetivos Específicos

• Conceituar ideologia;
• Interpretar os discursos orais e escritos identificando os indícios ideológicos;
• Identificar os mecanismos sociais utilizados para a construção das ideologias;

1.3 Resultados esperados

• Compreensão do conceito de ideologia;
• Interpretação dos discursos orais e escritos identificando os indícios ideológicos;
• Identificação dos mecanismos sociais utilizados para a construção das ideologias;

2 Duração da Atividade: 03 aulas de 50 minutos (que correspondem a 3 semanas)

3 Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno:

Ao iniciar o trabalho faça um diagnóstico para identificar se a turma tem noções da teoria marxista, seus princípios e ideias básicas.

4 Metodologias - Estratégias e recursos das aulas:

1ª Semana:
Problematizarão:
Apresentar no data show a história:
Uma estória para começar... Samir blahoud

Numa certa tribo primitiva da Austrália, o ritual de passagem da infância para a vida adulta era cercado de crueldades, para provar a força, resistência e coragem dos jovens. Entre outras coisas, o jovem era fechado numa cabana, junto a um enxame de furiosas abelhas. O jovem deveria suportar todas as ferroadas sem soltar um ai. Depois ele deveria enfrentar feras no mato com instrumentos precários de autodefesa...Enfim, somente após um ritual de atrocidades é que ele poderia ser considerado membro adulto da tribo, com todos os privilégios reservados apenas aos guerreiros.

Só os filhos dos chefes religiosos da tribo, que presidiam tais rituais, é que estavam isentos dessas práticas, porque só pelo fato de serem de descendência sagrada, eles já partilhavam da força dos deuses, o que os habilitava para posições privilegiadas. Foram os próprios deuses que, no princípio, assim estabeleceram as coisas.

A partir dessa história o professor deverá explorar A ideologia é um conhecimento deformado e falseado da realidade que beneficia um grupo em detrimento de outro. Quem tem mais poder na sociedade, tem mais possibilidade de impor sua ideologia. Porque tem um pensamento mais elaborado e tem à sua disposição melhores meios para difundi-la. Os membros sagrados da tribo, devido sua posição privilegiada tinham maiores condições de impor sua cosmovisão a todo o grupo. Afinal, seu papel é altamente legitimado pela crença generalizada no seu poder sobrenatural. O fenômeno ideológico é um produto necessário do fenômeno da desigualdade social.

Introdução do Conteúdo: Para iniciar este conteúdo o professor deverá explorar um vídeo da música Ideologia (Cazuza) acessando o link: http://www.youtube.com/watch?v=yUYEkrBfDrA e apresentando-o no data show.

Música: Pedir aos alunos que comentem sobre a letra da música, o que eles pensam ser ideologia na visão do Cantor.

2ª Semana:

Leitura e interpretação oral do texto:

Como nasce uma ideologia

A ideologia é um conhecimento deformado e falseado da realidade que beneficia um grupo em detrimento de outro. Quem tem mais poder na sociedade, tem mais possibilidade de impor sua ideologia. Porque tem um pensamento mais elaborado e tem à sua disposição melhores meios para difundi-la. Os membros sagrados da tribo, devido sua posição privilegiada tinham maiores condições de impor sua cosmovisão a todo o grupo. Afinal, seu papel é altamente legitimado pela crença generalizada no seu poder sobrenatural. O fenômeno ideológico é um produto necessário do fenômeno da desigualdade social.

A desigualdade é um fenômeno de poder e esse poder precisa legitimar-se.

Precisam, portanto, justificar a necessidade da permanência da realidade como ela é, mantendo um quadro de idéias para convencer os outros disso.

A ideologia é a justificação das posições sociais. Nesse sentido, a ideologia conta com a participação e colaboração da filosofia, da literatura, das ciências, do direito etc. A realidade é transformada em mito e o dominado crê no mito. Conscientizar é desmitificar.

A ideologia usa a ciência:

Há uma “atitude ideológica”, quando um cientista, um jurista ou um meio de comunicação são utilizados para falsificar a realidade. Nesse sentido, nem a ciência nem o direito são neutros. É impossível existir neutralidade em questões sociais.

No século XVII, os “cientistas” da Igreja tinham que acreditar e ensinar que a Terra era o Centro do Universo (teoria geocêntrica), pois assim faziam supor as Sagradas Escrituras, interpretadas pelos Santos Padres e pela Hierarquia da Igreja. Mesmo tendo apontado o telescópio para os céus e comprovado que o Sol era o centro do nosso sistema, Galileu foi obrigado a abjurar, em 1633, para não ser queimado vivo, como acontecera com Giordano Bruno, em 1600. Galileu ficou em prisão domiciliar até o final da vida. Só em 1992 a Igreja reconheceu publicamente que Galileu estava certo.

Principalmente em Estados Totalitários, a ciência é muito usada para fins de justificação do regime. Por isso há controle e censura à produção científica. Hitler, por exemplo, queria provar, cientificamente, a superioridade da raça ariana sobre todas as outras raças. Faziam-se experiências, inclusive com seres humanos. Uma ditadura pode usar “explicações científicas” para provar a necessidade e a oportunidade de se construir uma Usina Nuclear em Angra dos Reis, ou uma Rodovia Transamazônica. Recorrer à ciência, às estatísticas, dá uma maior importância, uma aparência de certeza da verdade, ao fato em discussão.

Até os dominados "defendem" a ideologia dominante:

- Foi Deus quem quis assim. Quando ele quiser, ele manda chuva para nós. Não podemos reclamar, não.

Uma pobre mulher nordestina dizia isso em junho de 2001.

- Minha senhora, não foi Deus, não! O dinheiro que já foi enviado para a SUDENE daria para ter inundado o Sertão. O Sertão poderia ter virado mar... Grande parte da culpa é dos corruptos que ficam com nosso suado dinheirinho... que, juntado, dá um dinheirão!

Atividade em grupo: produção de texto de 10 a 15 linhas, a partir da interpretação da música Ideologia de Cazuza e do texto explorado sobre o que ideologia.

3ª Semana:

Atividade no laboratório de Informática: levar os alunos ao laboratório de informática para realizar pesquisa no wikipedia sobre ideologia, utilizando o hipertexto acessando o link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ideologia

Apresentação das atividades em grupo para a turma: A partir da pesguisa realizada prepar slides sobre o tema e apresentá-los para a turma.

5 Recursos complementares:

• Data show;
• Laboratório de Informática;
• Texto xerocopiado;

6 Avaliação:

Deve ser feita durante todo o processo.

Professor, você pode elaborar os critérios junto com seus alunos. Uma sugestão:

- participação coerente nas discussões e nas atividades propostas;

- realização das atividades no laboratório de informática e participação nas discussões a partir das pesquisas;

- correção da produção de texto.

- Quadro de critérios de avaliação:

Critérios: Ótimo - Bom - Médio - Refazer

Participação Contribuiu com idéias úteis, participou da discussão e contribuiu consideravelmente para o grupo. Geralmente participa das atividades práticas, não participa das discussões, contribui de forma moderada com o grupo. Algumas vezes participa das discussões, mas não propõe nada e sente dificuldades para trabalhar em grupo. Não participa das discussões, não contribui para o grupo, muito disperso.

Abordagem da temática Abordagem inovadora apresentando resultados relevantes ao tema (além da proposta) Abordagem inovadora, porém os resultados não surpreenderam (apenas o que foi proposto). Abordagem simplista e os resultados não contemplaram o tema (não atingiu o objetivo)

Qualidade nos trabalho Trabalho bem acabado e criativo. Trabalho bem acabado. Precisa melhorar o acabamento. O trabalho mal acabado, não conseguiu atingir o objetivo da proposta.

Referências:

CHAUI, M. O que é ideologia do trabalho. São Paulo: Moderna, 1992.
CYRINO, Hélio. Ideologia hoje. Campinas: Papirus, 1986.
GARCIA, Nelson Jahr. O que é propaganda ideológica. 6. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1986. (Primeiros Passos, 77).
MARCONES FILLHO, Ciro. Ideologia. 7. Ed. São Paulo: Global, 1991.
MARTINEZ,P.A teoria das elites. São Paulo: Scipione, 1997.
VALLADARES,E.,BERBEL,M.Revoluções do século XX. São Paulo: Scipione, 1994.
MARX, Karl, ENGELS, F. A ideologia alemã. Trad. José Carlos Bruni e Marco Aurélio Nogueira. 6ª ed. São Paulo: Hucitec, 1987.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ideologia
http://www.youtube.com/watch?v=yUYEkrBfDrA

Possíveis Mudanças e Possibilidades de Contribuições das Tecnologias

De acordo com Pedro Demo as novas tecnologias tornaram as linguagens, hoje, multimodais, um texto que já tem várias coisas inclusas, som, imagens, texto, animação. O texto tem que ser atrativo para proporcionar ao aluno uma forma de aprendizado diferente. A escola tem que se organizar de tal forma que traga para dentro do seu ambiente as novas culturas do século XXI, como o mp3, a televisão, a internet, o DVD e o celular. Esses elementos devem fazer parte da rotina escolar para tornar o processo de ensino aprendizagem mais atrativo.

Para tanto devemos cuidar do professor, pois ele é o responsável por fazer com que todas essas mudanças entrem na escola. Ele será o disseminador dessas novas tecnologias como instrumentos didáticos para que o aluno aprenda.

Nesse sentido faz-se necessário uma nova pedagogia que ajude o professor não apenas dar aulas, mas ser capaz de produzir seus próprios materiais didáticos, suas próprias aulas, ajude o professor ser autor da sua prática pedagógica.

Ao ler a entrevista de Pedro Demo percebi que ser professor hoje, implicar não apenas saber manusear o computador é necessário utilizá-lo como um instrumento de uma mudança do paradigma educacional, um paradigma que promova a aprendizagem ao invés do ensino, que coloque o controle do processo de aprendizagem nas mãos do aprendiz, que ajude o professor entender que a educação é um processo de construção do conhecimento do aluno como um todo.

Outro ponto que chamou minha atenção foi quando ele coloca que o professor não corre o risco de ser substituído, uma vez que é por meio dele que essas novas tecnologias só entram na escola se entrarem pelo professor, pois ele é as tecnologias das tecnologias, e deve se portar como tal. É necessário portanto cuidar para que o professor possa sempre, por meio de cursos de formação continuada, aprender sempre para ser capaz de ser o autor de suas aulas tornando se autônomo e criativo.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Conceito de Currículo e o processo de integração de Tecnologias ao Currículo

O currículo é instrumento norteador que contempla disciplinas específicas, competências e habilidades necessárias e indispensáveis à educação em todas as suas esferas. Pode ser ainda, as experiências vivenciadas na trajetória de vida de qualquer ser humano ao longo dos anos, que determinam, ao longo dos anos, o que somos e no que nos tornamos, contribuindo de forma significativa para a construção da nossa identidade pessoal e social.

Neste sentido, uma prática pedagógica baseada no uso de tecnologias propicia a integração de diferentes mídias ao currículo com instrumentos facilitadores da transposição didática dos conteúdos escolares com foco na aprendizagem do aluno. E por meio de estratégias pedagógicas adequadas, prática e teoria se inter-relacionam e dão o norte para o desenvolvimento do currículo concebido como construção social (GOODSON, 2001), cultural e histórica que envolve conhecimento, poder, tomada de decisão, produção de identidades (PACHECO, 2001) e de conhecimentos resultantes dos diversos processos individuais e globais de construção mentais influenciados pelas relações sociais.

Desenvolver projetos que promovam a integração entre currículo e as novas tecnologias que circulam na sociedade, ainda é um grande desafio para nós educadores, e requer um esforço de todos nós envolvidos e comprometidos com a educação escolar, exige a busca constante da integração entre os professores das diferentes áreas do currículo, a busca de uma formação contínua, a aceitação de novos paradigmas relacionados ao uso das tecnologias em sala de aula.

Mas não se pode negar que o uso das tecnologias no processo de ensinar e aprender enriquece as experiências educativas e facilita a aprendizagem por tornar mais dinâmico e atrativo e por isso propicia mais envolvimento dos alunos no processo de descoberta e reconstrução de conhecimentos.

sábado, 2 de outubro de 2010

3º ANO – 4º BIMESTRE - EIXO: A arte

COMPETÊNCIAS:


• Aplicar conhecimentos filosóficos no plano existencial, nos projetos de vida e nas relações sociais;
• Desenvolver a leitura filosófica da arte
• Utilizar a arte como elemento de transposição do materialismo.

HABILIDADES:

• Ler textos filosóficos de modo significativo;
• Ampliar gradativamente o alcance da leitura filosófica;
• Elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo;
• Compreender a arte como possibilidade de humanização do ser humano.

CONTEÚDOS MÍNIMOS:

• O que é arte
• A historicidade da arte
• A (in) utilidade da arte
• As funções da arte
• O valor de pensar por si mesmo

SUGESTÕES:

LIV ANDRADE, Mário de. O baile das quatro artes. 3. ed. São Paulo, Martins; Brasília,. Instituto Nacional do Livro, 1975.

PLATÃO. O banquete. São Paulo: Nova Cultural, 1987.[Coleção Os pensadores]

BATTOCOCK, Gregory. A Nova arte. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 1986

DAIX, Pierre. Critica nova e arte moderna: ensaio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971.

PEDROSA Mario. Mundo, homem, arte em crise. São Paulo, Perspectiva, 1975. 321 p.


FILMES:

Leonardo da Vinci, 2004
Os Amores de Picasso, 1996, direção de James Ivory
Identidade de Nós Mesmos, 1989, direção de Wim Wenders
O Sorriso de Mona Lisa, 2003, direção Mike Newell
Sonhos, 1990, direção Akira Kurosawa

TEXTOS:
TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar


PENSE DIFERENTE: UMA HABILIDADE OU ATITUDE

PENSE DIFERENTE para encontrar novas maneiras de fazer as coisas. Passe a ser mais observador em tudo. Não aceite idéias apenas passivamente. Seja pró-ativo. Considere várias alternativas sem contentar-se com apenas uma.

Pior do que não ter nenhuma idéia é ter apenas uma idéia na cabeça.

Habitue-se a perguntar "DE QUE MANEIRA EU POSSO... (ficar menos tempo no trânsito, por exemplo)?" Você encontrará diversas alternativas, como por exemplo: saia mais cedo do escritório, vá de metrô, vá de táxi, saia mais tarde do escritório, freqüente a academia de ginástica ao lado do escritório durante o horário de rush, faça o curso de inglês neste horário, leia os livros que não conseguiu ler por falta de tempo, coloque audio books no carro atualizando a sua leitura ou estudando um idioma e infinitas outras alternativas.

Para pensar diferente ligue-se permanentemente em tudo o que acontece, em tudo o que o rodeia. Leia diferentes jornais e revistas. Participe de congressos e seminários. Visite feiras e exposições. Assista à palestras. Procure canais de TV aos que você nunca assiste. Converse com pessoas que você nunca conversou.

Pensar diferente é uma habilidade que deve ser cultivada durante toda a vida. Dizem algumas pesquisas que quem não exercita o cérebro vai perdendo sua capacidade mental com o passar dos anos. Nosso cérebro nos oferece um potencial ilimitado para produzirmos novas idéias. É no cérebro que são criados todos os nossos sonhos e desejos. É em nosso cérebro que vemos, sentimos, nos comunicamos e experimentamos as mais variadas emoções. É do cérebro que recebemos os comandos dos movimentos e dos nossos pensamentos.

O mundo com suas rápidas mutações exige novas respostas para os novos desafios. Necessitamos de urgência. Acione freqüentemente a sua imaginação e criatividade em todo seu potencial.

Pense diferente para abrir caminhos para o progresso, para encontrar novos produtos que facilitarão e até salvarão a vida de muitas pessoas.

Pense diferente para encontrar novas maneiras de melhorar na sua carreira com eficiência e rapidez.

Pense diferente para conseguir melhores escolas, mais trabalho, habitações dignas, músicas mais bonitas e envolventes.

Tenha um desejo ardente para melhorar as coisas.

Pense diferente para ultrapassar os limites do que aprendemos na escola e com a experiência da vida. Vá mais além. Desbrave com alegria o seu poder criativo. Antonio Carlos Teixeira


FUNÇÕES DA ARTE

Função Individual: O ser humano é um ser sensível, emociona-se, reflete, pensa. A arte tem como finalidade possibilitar os processos de percepção, sensibilização, cognição, expressão e criação necessários ao desenvolvimento global do homem. Ao suprir suas exigências básicas de sobrevivência, o homem quis mais: desejou ser mágico para transformar a matéria em outra diferente; desejou tornar o sonho realidade; desejou criar beleza para encontrar prazer; desejou conhecer a si mesmo para ter a consciência do que é e do que poderá vir a ser enquanto cidadão.

Função Ambiental: A arte, por meio da alfaabetização estética, leva a todos a observar o meio que o cerca, reconhecendo a organização de suas formas luzes e cores, suas harmonias e seus desequilíbrios, a sua estrutura natural bem como a construída.

Como vimos, toda pessoa transforma a natureza com o seu trabalho. Arte é matéria transformada, concreta, ocupa lugar no espaço. Até mesmo o som e o gesto, por mais fugazes que pareçam, compõem como o ambiente, novos ambientes. Por intermédio de obejetos, sons e movimentos, uma paisagem visual, sonora, espacial vai surgindo a cada minuto e imprimindo novos significados, estéticas e necessidades para a sociedade. È importante que cada um perceba este mundo, como uma paisagem e tenha a consciência ao transformá-la.

Função Social: Toda pessoa é um ser cultural, fruidor e agente da Arte. Ela transmite a cultura elaborada epela humanidade. Enquanto linguagem, ultrapassa a funçao da comunicaçao simples e pura, pois transmite ideias, sentimentos e informações que transformam as ideias, os sentimentos e as informações já existentes, influenciando modos e atitudes, num movimento dinâmico de interação entre o homem e a sociedade. A Arte é conhecimentoe, como tal, tem função no processo de educação do ser humano, enquanto Educação Artística e Alfabetização Estética. Ela revela os símbolos específicos de cada linguagem, necessérios à construção de um leitor de mundo mais crítico, sensível e eficiente nos seus posicionamentos.


PENSAR POR SÍ MESMO

Neste texto, como o próprio nome sugere, Schopenhauer descreve a importância de pensar por si mesmo, ou seja, adquirir conhecimento através dos seus próprios neurônios. “... la masa mayor de conocimientos, si no há sido elaborada por el pensamiento original, vale mucho menos que uma masa menor varias vezes asimilada.”, isto é, o conhecimento adquirido através do próprio esforço mental vale muito mais do que o conhecimento adquirido por meio de terceiros.

Schopenhauer descreve no decorrer das linhas de seu livro dois tipos de pessoas, os eruditos e os gênios. Os primeiros são aqueles que lêem vários livros, vivem da leitura, são exímios conhecedores da literatura, enquanto os segundos são os legítimos pensadores, os que têm algo a ensinar a humanidade, são os que lêem diretamente no livro do universo, folheiam a natureza ao invés de folhearem páginas de livros. Em suma, os gênios observam a natureza, desenvolvem seus pensamentos e passam para livros todo seu conhecimento, livros esses que serão lidos pelos eruditos.

A leitura nada mais é do que um “remédio” para aqueles que têm preguiça de pensar, é um sucedâneo do pensamento pessoal. A convicção de Schopenhauer, quando afirma que devemos ter pensamentos próprios é tanta, que ele compara o ato de rejeitar pensamentos originais em troca de livros, com um pecado contra o Espírito Santo.

A verdade adquirida pelo pensamento próprio, original, é como um elemento do próprio ser, enquanto que o conhecimento adquirido através de outrem é comparado como um membro enxertado é uma parte de outro misturada ao nosso ser.

Schopenhauer faz uma analogia interessante, ele diz que uma pessoa que busca conhecimento pelos livros é a mesma pessoa que conhece um país através de uma revista de agencia de viagens, posso conhecer virtualmente todos os Estados Unidos, saber detalhes de sua estrutura social, política, seus pontos turísticos, porém, aquele que verdadeiramente conhece tal país é aquele que lá esteve e por si vivenciou o clima, a terra, as conexões de informações que somente lá existem. Aquele que verdadeiramente conhece o mundo é aquele que vive o mundo, os que tentam conhecer através da literatura têm acesso a meras descrições.

Parece hilário, mas aquele que lê filosofia, aquele que busca conhecer “o que há”, “o que é” através dos livros, irá acabar em uma discussão inútil, irá debater, por exemplo, se Leibniz era ou não spinozista. Ao invés de buscar a luz com sua reflexão própria, ao invés de refletir sobre o mundo, ou formular teorias, como o próprio Leibniz fez outrora, acabam por cair no ridículo de discutir e classificar filósofos em escolas, ou grupos.

Não devemos deixar de ler, a leitura é importante fonte de conhecimento. Não devemos é nos apegarmos em demasia à literatura e dar-lhe primazia a busca do conhecimento pela própria analise do que observamos e pensamos propriamente. Não podemos acostumar nosso espírito com longos períodos de leituras ininterruptas, pois ele pode se acostumar, e como conseqüência, perderá a capacidade de pensar por si mesmo.

Esses, que preferem a leitura de livros a pensar por si mesmos, os chamados eruditos, acabam viciando seu espírito com a literatura e o estupidificam. Eles lêem tanto que acabam ficando estúpidos, bobos, perdem a capacidade de ter pensamentos próprios e originais, são capazes apenas de copiar, perdem a capacidade de pensar. Para construir sua filosofia e escrever seus livros, Schopenhauer também pesquisou a literatura de outros filósofos e, sobretudo, observou a natureza, sua filosofia não é mera cópia ou plágio.

É importante ler os outros grandes autores, porém não demasiadamente, para que eu não perca em nenhum momento o contato com o mundo real, e de gênio passe para erudito, ou, o espectador literário. O erudito tem apenas representações abstratas, ou seja, conhece única e simplesmente os conceitos, enquanto o gênio acessa as representações intuitivas, ou seja, observa o concreto, e dele tira suas próprias conclusões, pensa por si.

O gênio é como um monarca, não aceita ordens, e faz mais, dá as ordens. Seus juízos, como as leis do monarca, emanam de seu poder supremo, sua capacidade, procede diretamente dele, não precisam de intermediários para existir, só admite aquilo que pode provar ele mesmo. Do outro lado, existem aqueles que não tem opinião, aqueles que precisam ler algo para ter o que dizer, não pensam por conta, precisam que alguém pense antes para que possa tomar essa opinião como sua.

“Em matéria de pensamento, só tem verdadeiro valor aquele que é pensado para si mesmo.” . Após proferir essa frase, Schopenhauer divide os pensadores em duas classes: os que pensam para si mesmo e os que pensam para os demais. Os primeiros são os filósofos, que tem alegria, vivem para pensar, os outros são os sofistas, que buscam o glamour, querem brilhar, querem proferir frases de efeito, sem que haja preocupação com a veracidade delas, seu objetivo é a fortuna.

É fácil de entender, enquanto filósofo eu penso para mim, e eu não vou querer ter pensamentos falsos, não há algum interesse nisso, pois como sou amante do pensar, da sabedoria, e tenho como meta os pensamentos verdadeiros, quero descobrir a verdade sobre o mundo, não tenho por que mentir, bem pelo contrario. Já o sofista está interessado no dinheiro, no quanto ele pode ganhar defendendo os interesses dos comandantes capitalistas de sua época, pouco importa a verdade, é mais interessante uma mentira bem paga.

O homem é um animal como os outros, vive para consolidar sua existência. É bom ter cuidado com o que ouvimos, precisamos filtrar o conhecimento que querem nos passar através dos livros, para que não caiamos no vai e vem da moda e nos esqueçamos da verdadeira filosofia, do verdadeiro ensinamento.

2º ANO – 4º BIMESTRE - EIXO: Cidadania e Política

COMPETÊNCIAS:


• Desenvolver permanentemente a leitura ideológica no campo político;
• Aplicar conhecimentos filosóficos no plano existencial, nos projetos de vida e nas relações sociais;
• Compreender e requisitar os direitos elementares para o exercício de cidadania.

HABILIDADES:

• Ler textos filosóficos de modo significativo;
• Ampliar gradativamente o alcance da leitura filosófica;
• Participar ativamente das atividades políticas de sua comunidade e país;
• Compreender claramente quais são os direitos e deveres do cidadão.

CONTEÚDOS MÍNIMOS:

• O que é política
• A política e o cotidiano
• A indiferença política
• A cidadania
• A participação política


SUGESTÕES:

LIVROS:

MARTINEZ, Paulo. Direitos de Cidadania: um lugar ao sol. São Paulo: Scipione, 1996. Da coleção PRIMEIROS PASSOS, da Editora Brasiliense (São Paulo)

• O que é cidadania - Maria de Lourdes Manzini Covre
• O que e democracia - Denis L Rosenfield
• O que são partidos políticos – Francisco Weffort
• O que é participação política – Dalmo de Abreu Dallari
• O que é poder – Gérard Lebrun
• O que é política – Wolfgang Leo Maar


SITE:



FILMES:

Danton - O processo da revolução, 1982, direção de Andrej Wajda
Fontamara – direção de Carlo Lizzani
Aguirre - a cólera dos deuses, 1972, direção de Werner Herzog
Missing – o desaparecido, 1982, direção de Costa – Gravas
Justiça - direção e roteiro Maria Ramos
Pra Frente Brasil, 1983, direção Roberto Farias

TEXTOS:

O QUE É POLÍTICA

Na vida diária, as pessoas se referem à política como a ação do Estado e da organização institucional. Assim, o termo é utilizado para descrever a atividade parlamentar de um determinado político eleito, a ação dos partidos políticos por ocasião de campanhas eleitorais ou, ainda, para se referir ao ato de votar e escolher representantes que exercerão mandato e decidirão em nome dos eleitores. A política apresenta-se como arte de governar.

Também se emprega o termo para expressar a multiplicidade de situações em que a política se manifesta: política económica, política sindical, política das igrejas. Nesse sentido, entende-se a política como a atuação de instituições ou de segmentos da sociedade civil com a finalidade de alcançar determinados objetivos.

No entanto, ao contrário do que possa parecer, a política não diz respeito apenas aos políticos, mas a todos os cidadãos. Se considerarmos que a palavra política origina-se do grego polis, que significa "cidade", podemos compreender a sua amplitude. A polis caracterizava-se como uma unidade de vida social e política autônoma, da qual os cidadãos gregos participavam ativamente, decidindo sobre os destinos da cidade.



O PODER: Para que a sociedade funcione, é necessário que os indivíduos se submetam a regulamentos, acatem valores e se conformem a uma determinada situação. As normas, leis, disciplinas às quais precisamos nos submeter para conviver na sociedade implicam relações de poder.

O poder, portanto, não se limita à organização do Estado, mas está presente em todas as relações sociais. Assim, na família, somos geralmente orientados pela afetividade e pela autoridade dos pais; na escola, pela dedicação e pela autoridade dos professores, que ensinam e decidem sobre o nosso saber por meio de avaliações; no trabalho, os empregados se submetem a disciplina, horários e técnicas para manter ou aumentar a produtividade na sua unidade de trabalho; no hospital, os médicos decidem sobre o que é melhor para a nossa saúde; no trânsito, precisamos respeitar os sinais convencionais, para garantir a nossa vida e a dos outros; nas igrejas, os padres e pastores orientam a vida dos fiéis; no mercado, precisamos de dinheiro para comprar o que desejamos. Enfim, todas as situações que vivemos envolvem relações de poder que engendram e mantêm a ordem social.

O poder consiste num conjunto de relações de força que indivíduos ou grupos sociais estabelecem entre si a partir de sua situação na sociedade.

Quando falamos em "força", pensamos imediatamente na violência física, na imposição de uma vontade, no constrangimento. Mas nem sempre é assim. Aqui nos referimos à força como a capacidade de estimular ou inibir ações, não pela coerção ostensiva, mas sim pelo lento processo de formação de nosso comportamento e da assimilação de valores ao longo da vida. Nossos pais, nossos, professores e pessoas que amamos no influenciam e orientam por meio dos vínculos afetivos que mantemos com eles. Trata-se de uma forma sutil de coerção e, por isso, mais eficaz e duradoura. Essa força consiste na autoridade e disciplina a que somos submetidos na família, na escola, nas igrejas, na sociedade em geral.

As relações de poder estabelecidas em nosso cotidiano fazem parte do contexto amplo da organização social e política moderna, em que a acumulação e a concentração de riquezas, que são a base da produção capitalista, geram relações sociais e políticas desiguais e excludentes. A vida organiza-se conforme uma hierarquia social em que alguns indivíduos ou grupos sociais estão em posição superior e podem influir na vida e na atividade de outros indivíduos ou grupos sociais em posição inferior. Enfim, há grupos que dominam, ordenam, dirigem, e outros que são dominados, obedientes, dirigidos. Nesse contexto, poder significa dominação exercida pelo Estado e que se estende à todas as relações sociais.



A POLÍTICA E O COTIDIANO



Se a política faz parte de nossa vida, estando presente em todas as relações sociais, por que essa forma de vivência não é consciente em nosso cotidiano? Por que a participação política do indivíduo é tão limitada?

Podemos entender, em parte, essas questões, ao considerar as condições modernas da política. Em geral, a forma de governo dos Estados modernos é a democracia representativa, caracterizada pela constituição de poderes autônomos entre si (Executivo, Legislativo e Judiciário), organizados com base na ordem jurídica instituída (Constituição, leis, etc.), pela existência do voto secreto e universal e pela ação dos partidos políticos, que expressam a diversidade de pontos de vista sociais.

Nesse contexto, a participação política dos indivíduos parece limitar- se à escolha dos representantes para os cargos eletivos entre os candidatos de vários partidos. A ação política parece concentrar-se no Estado, na estrutura institucional e na atividade dos políticos eleitos pela sociedade. Estes quer o enunciem claramente ou não, representam os interesses de grupos sociais: há políticos que se empenham na defesa dos direitos civis, na ampliação dos espaços de participação política e no respeito à coisa pública, agindo com dedicação e transparência. Mas há também políticos que se dedicam aos favorecimentos, confundindo o espaço público com o privado, ao utilizar-se do poder que lhes foi delegado para beneficiar grupos particulares.

Os indivíduos, membros da sociedade civil, têm sua vida afetada por decisões políticas tomadas pelo poder institucional, que elabora as leis que regulam a sociedade. Daí a importância de conhecermos o processo político e dele participarmos, pois todas as decisões de nossos representantes no Parlamento nos atingem direta ou indiretamente.

Vejamos alguns exemplos de como as decisões políticas nos afetam de modo direto ou indireto: as relações de trabalho são regulamentadas por uma legislação elaborada e sancionada por nossos representantes políticos;nela se estabelecem os direitos e deveres do empregador e do empregado.

Nosso acesso aos benefícios sociais, como saúde e educação, também é prescrito por leis e ações advindas do Congresso Nacional. Se nos dispomos a reivindicar nossos direitos por meio de uma greve, podemos sofrer repressão policial. Em momentos de crise econômica e recessão, muitos trabalhadores perdem seus empregos e procuram sobreviver como vendedores, lavadores de carros e outras formas de subemprego; seus filhos precisam abandonar a escola para auxiliar no orçamento da família e acabam vendendo objetos nos semáforos.

Se observarmos um pouco mais a realidade brasileira, veremos que ocorre uma intensa concentração de renda nas mãos de uma pequena parcela da população, enquanto uma multidão se encontra nos limites da miséria. Há falta de escolas públicas, hospitais e moradias. Muitos camponeses lutam por uma distribuição equitativa da terra, que lhes dê condições de viver de seu trabalho com dignidade. As mulheres ainda são discriminadas profissionalmente. Presos comuns são massacrados em penitenciárias. Existem problemas de saneamento urbano, transporte, poluição. Enfim, a lista parece infindável.

Todos esses problemas nos dizem respeito e somos responsáveis por eles, pois participamos da vida da sociedade e dos conflitos que nela ocorrem. Muitas vezes, porém, não temos consciência disso, não percebemos como nossas escolhas individuais podem contribuir para consolidar uma situação instituída ou para esclarecer as contradições sociais. Nossa visão de mundo fragmentada reflete os valores de um sistema econômico que se alimenta da exploração do trabalho e funciona com base na troca, mercado, dinheiro, lucro. Esses valores se manifestam em relações sociais em que prevalecem a competição, a concorrência e a hostilidade entre os indivíduos.

Na sociedade civil, os meios de comunicação de massa, a escola, as igrejas, as empresas e a família veiculam uma interpretação parcial da realidade, em que o individuo, isolado, é responsabilizado pela situação em que se encontra, como se ela dependesse apenas de sua vontade, de suas características individuais (esforço, preguiça, perseverança, etc.) As explicações não se baseiam nas desigualdades sociais e políticas sociais que caracterizam a estrutura social.



A INDIFERENÇA POLÍTICA

O desinteresse da maioria dos indivíduos pelos assuntos públicos é um dos grandes problemas políticos a enfrentar nas sociedades modernas. Além dos que não participam por desconhecer o seu papel no processo político, há os indiferentes conscientes, os que compreendem a situação mas não tomam partido, encarando a vida política com ceticismo. Em ambos os casos, a indiferença e a consequente passividade desempenham um papel desagregador na política. Os indivíduos cuidam de suas atividades pessoais e deixam as decisões políticas nas mãos de pequenos grupos que, movidos por ambições e paixões particulares, traçam os destinos de um povo.

Da indiferença dos indivíduos podem nascer as políticas autoritárias, a corrupção e demais formas de desmandos. A falta de transparência na política, a concentração do poder nas mãos de profissionais da política, bem como ausência de controle e de cobrança da sua atuação, ocorrem, em grande parte, porque muitos se omitem, tornam-se apáticos, renunciam à possibilidade de criar alternativas de intervir na política. Quando os males acontecem, os indiferentes eximem-se da responsabilidade, porque não participaram ativamente da construção dos fatos. Esquecem-se de que a ausência e a omissão também são formas de participação.

A CIDADANIA

Na sociedade moderna, nascida das transformações que culminaram na Revolução Francesa, o indivíduo é visto como homem (pessoa privada) e como cidadão (pessoa pública). O termo cidadão designava originalmente o habitante da cidade. Com a consolidação da sociedade burguesa, passa a indicar a ação política e a participação do sujeito na vida da sociedade.

Cidadão é o indivíduo que possuem direitos e deveres para com a coletividade da qual participa — existem interesses comuns que o cidadão precisa respeitar e defender por meio da atuação na vida pública. A desigualdade social não permite a efetivação das liberdades constitutivas da sociedade civil, entre elas a liberdade política de participação nos assuntos públicos, que não se realiza para todos os membros da sociedade. Nesse sentido, a República brasileira, em mais de um século de existência, ainda não conseguiu realizar uma política democrática. Os princípios básicos das democracias modernas, como o direito de todos os indivíduos à liberdade de pensamento, associação, credo, locomoção, manifestação da opinião por intermédio da imprensa e da propaganda, são garantidos por lei. Tais princípios, são a base necessária para a participarão do cidadão na sociedade capitalista. Porém, o acesso a esses mecanismos é restrito.

Vejamos um exemplo: o domicílio de qualquer cidadão é inviolável e o direito à proteção é garantido por lei. No entanto, é frequente vermos na televisão os barracos das favelas serem invadidos pela polícia sem qualquer consideração. Tais ações demonstram como os favelados, relegados a uma situação de pobreza, são alvos de arbitrariedades em nome do Estado, sofrem discriminação social e, na prática, se vêem destituídos de sua cidadania.

O desemprego, a miséria, o analfabetismo, as diversas formas de violência que afetam a vida de grande parte da população brasileira impedem o exercício efetivo da cidadania. A discriminação se amplia quando se trata de enfrentar nossas diferenças raciais e culturais: mesmo constituindo parcela relevante da população, são poucos os negros que frequentam as universidades ou exercem funções empresariais e administrativas. Os índios, com suas tradições e riquezas culturais, têm sido dramaticamente discriminados e dizimados ao longo de nossa história. Enfrentar o grande desafio de assegurar e ampliar o exercício da cidadania em nosso país implica questionar o caráter excludente de nosso modelo económico e, ao mesmo tempo, efetivar e aprimorar a democracia. Necessitamos de uma política democrática que viabilize mudanças econômicas para resolver os nossos graves problemas sociais, reconhecer e defender os direitos de todos os cidadãos e garantir o pluralismo e os direitos das minorias.

É preciso criar espaços de manifetação na sociedade civil. onde os interesses comuns possam ser defendidos e os indivíduos possam tomar consciência do papel que desempenham na sociedade.

A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA

O caminho para discutir e propor uma nova direção à sociedade passa pela vida de cada um de nós, pela nossa participação na organização de movimentos sociais que defendam com afinco direitos da comunidade. Existe um grande número desses movimentos reivindicatórios, como movimentos estudantis, comunidades de base, movimentos de luta pela moradia, movimentos de luta contra o desemprego, movimentos dos sem-terra. Todos têm um significado político, pois defendem interesses coletivos que implicam mudanças sociais efetivas.

Esses movimentos, nascidos da necessidade de resolver problemas cotidianos não enfrentados pelas instituições públicas responsáveis, são de vital importância para a conquista da cidadania. Organizados a partir da vontade e determinação de indivíduos e grupos sociais em defesa de seus direitos, rompem os limites estreitos oferecidos pelo Estado à participação do cidadão e redefinem a política, mostrando-a como atividade dinâmica de ação efetiva. Da discussão de problemas imediatos, esses movimentos avançam para a compreensão do conjunto de relações em que certo problema está inserido, descobrem sua capacidade de inventar e criar soluções e, muitas vezes, percebem a necessidade de transformações radicais. À medida que se organizam internamente, esses grupos constroem a vida coletiva, a comunidade, e conseguem externar sua força de reivindicação.

As possibilidades de mudanças são maiores quando a sociedade civil se organiza e participa ativamente da política. Nesse processo, os indivíduos se renovam, amadurecem e compreendem que a cidadania que se conquista é limitada; é a cidadania possível dentro dos limites de uma sociedade dividida.

Referência: CORDI, CASSIANO. Para Filosofar.São Paulo, Scipione, 1997


 
O Analfabeto Político

Berthold Brecht

O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais

POLÍTICA E CIDADANIA

Atribui-se a origem da palavra política ao termo grego “pólis” que significa cidade. Quando pensamos em política, logo nos vem à mente a idéia de decisões que afetam muitos. Uma política comercial de vender só a vista ou só a prazo, é um exemplo de como uma decisão pode afetar um grupo de clientes ou todos os clientes de uma empresa.

Quando pensamos em política no sentido público, logo associamos com decisões que viram leis e que podem afetar uma cidade, um estado, uma nação ou todo o planeta. Veja o impacto da decisão que gerou o incidente conhecido como 11 de setembro nos EUA.

Tomás de Aquino, o filósofo, dizia que política é a arte de governar os homens e administrar as coisas, visando o bem comum, de acordo com as normas da reta razão.

A qualidade das decisões políticas de um governo pode ampliar ou diminuir sua habilidade de influenciar as decisões dos governados. Em uma democracia, isto pode redundar na renovação de um mandato ou até na remoção de um governante como foi o caso do impedimento do ex-presidente Collor.

Devido à desinformação ou desilusão relacionadas às suas expectativas, muitas pessoas dizem categoricamente que não gostam de política. Essas pessoas, não tem idéia do prejuízo que estão gerando para si mesmas e para o grupo social. Votando em branco, ou anulando o voto, por exemplo, diminuem o número de votos válidos e facilitam a vida de quem não gostariam de eleger. Seria importante que todos compreendessem que seu desinteresse equivale a renunciar à cidadania.

Platão, o filósofo grego, discípulo de Sócrates dizia: - Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política. Simplesmente serão governados por aqueles que gostam.

Precisamos mudar o nosso conceito de política e o primeiro passo é separar a palavra política, de politiqueiro e da politicagem. Na Grécia antiga, em cidades como Atenas, os cidadãos livres participavam da assembléia para discutir os problemas comuns a todos e tomavam decisões com o objetivo de solucioná-los.

Baseado nesta experiência, Aristóteles, um dos maiores sábios gregos, dizia que política é a ciência e a arte do bem comum. Para ele a cidade deveria ser governada em proveito de todos, e não apenas em proveito dos governantes ou de alguns grupos.

Muitas vezes, não percebemos, mas algumas decisões políticas afetam a vida de todos. Os gastos públicos, por exemplo, diminuem as verbas disponíveis para investimentos públicos em educação, estradas, saúde, segurança, financiamento de novas empresas, etc. Estes gastos aumentam a dívida pública a qual precisa ser “rolada”, ou seja, contrata-se uma nova dívida, para pagar a velha. Isto mantém os juros elevados e atrai especuladores estrangeiros. O aumento da oferta de dólares fortalece o real e derruba o cambio. O cambio barato, deixa o produto importado mais competitivo e fica difícil exportar. A produção cai e as fábricas dispensam parte da sua mão de obra, passam a produzir no exterior ou fecham. Criamos empregos lá fora e desemprego no Brasil.

É por razões como estas que nenhum cidadão sensato pode ignorar a política. Cada pessoa deve procurar compreender e participar da política. Para atuar politicamente e assim influenciar o poder, cada cidadão e cidadã deve se conscientizar, informar-se, ouvir, ler, falar, debater, estudar e procurar formar sua opinião sobre os diferentes problemas.

Com consciência política estaremos preparados para votar, fazer sugestões, acompanhar os trabalhos dos nossos parlamentares, exigir e reagir quando for necessário.

Toda eleição é um contrato. O candidato promete, a gente vota e espera que ele cumpra o que prometeu. Se ele mentiu ou foi incompetente, temos o direito de não renovar o contrato ou afastá-lo antes que seja tarde. A auto instrução pela leitura e pelo debate é o melhor remédio para que o Brasil desperte. Paulo Henrique Wedderhoff

Cidadania: reflexo da participação política

Nos últimos tempos, usamos com freqüência o termo cidadania em qualquer discurso ou diálogo trivial, pois consiste, este vocábulo, devido ao seu significado abrangente, a designação que tende a ser oportuna e adequada em inúmeras situações.

Todos experimentamos o exercício da cidadania ou o seu desrespeito na vida e, assim, acabamos perfeitamente aptos para apontar a existência ou a falta da mesma sem dificuldades. Esta realidade permite alcançar o conteúdo que aquele termo designa a partir de um cem número de direitos que o integram. Tais direitos, seguindo a moral de vida de uma sociedade e de seus interesses, vão sendo estendidos e ampliados, favorecendo, por conseguinte, a identificação do significado e conteúdo da cidadania em uma quase infinita variedade de situações.

Cidadania, palavra derivada de cidade, estudada por Aristóteles, é melhor compreendida se pensarmos a cidade como o Estado. Desse modo entendida cidadania, é possível dizer que, todo cidadão, que integra a sociedade pluralista do Estado democrático, é senhor do exercício da cidadania, a qual, em síntese, é vocábulo que expressa um extenso conjunto de direitos e de deveres.

Esta idéia, de exercício de um vasto conjunto de direitos e de deveres, consiste o conceito amplo de cidadania, cujo conteúdo, superior ao conceito estrito de cidadania, o qual é percebido unicamente como o exercício do direito e dever políticos de votar e de ser votado, só adquire pleno significado, no mundo contemporâneo, num Estado democrático de direito. E, normalmente, na atualidade, quando fazemos referência à cidadania, estamos falando de seu sentido ampliado.

Como se disse há pouco, perceber o pleno alcance do conceito amplo de cidadania, hoje, exige, necessariamente, o ambiente de vida e de convívio entre os homens típico e próprio de um Estado democrático de direito. Em sua acepção ampla, cidadania constitui o fundamento da primordial finalidade daquele Estado, que é possibilitar aos indivíduos habitantes de um país o seu pleno desenvolvimento através do alcance de uma igual dignidade social e econômica.

O ambiente de vida social do Estado democrático, cujos pilares de sustentação encontram-se na admissão, na garantia e na efetividade dos direitos fundamentais da pessoa humana, em uma sociedade solidária, é tornado real através da observação de vários postulados que lhe são essenciais. São pressupostos do Estado democrático: 1) a valorização e atualidade da dignidade do homem e o reconhecimento da importância de dispensar a todos tratamento fraternal, igualitário e não discriminativo; 2) a confiança nos talentos e possibilidades latentes dos homens; 3) a segurança e o crédito nos valores institucionalizados pelas massas, como fundamentos para o progresso do bem comum e o alcance da justiça; 4) a aceitação da legitimidade das decisões tomadas por meio de processos racionais e participativos de deliberação, com o consenso da maioria, que constitui o reflexo, o resultado de debates livres entre todos; 5) o respeito aos grupos minoritários; 6) e, a compreensão de que todo o interesse geral é a síntese dos diversos interesses e idéias dos indivíduos e dos grupos, diferentes centros de poder, que integram a sociedade pluralista.

Diante disso, percebe-se que, o conceito amplo de cidadania, está conectado e conjugado, porque encontra aí seus princípios básicos estruturantes, aos conceitos de democracia e de igualdade.

O princípio de igualdade disciplina todas as atividades públicas e tem aplicação direta nas relações privadas, que ocorrem entre os particulares, impondo, para torná-lo real, a proibição de discriminações e a eliminação das desigualdades fáticas nos planos social e econômico, proporcionando a todos os cidadãos igual condição de vida e mesma posição perante o Estado democrático.

E, também para a realização da cidadania, o princípio democrático torna indispensável a participação popular nas tomadas de decisão.

A cidadania, no Estado democrático de direito, efetivada, oferece aos cidadãos, como iguais condições de existência, o gozo atual de direitos e a obrigação do cumprimento de deveres, que, resumidamente, podem ser assim apresentados: exercício de direitos fundamentais e participação; e, os deveres de colaboração e solidariedade.

Sabendo-se que todo cidadão tem sua existência acompanhada do exercício de direitos fundamentais e do direito de participação.

Sobre a participação, cumpre asseverar que este direito significa a capacidade de ser consultado para as tomadas de decisão que dizem respeito à direção da sociedade em que vive o cidadão e que, dentre os direitos de participação política, tais como a igualdade de sufrágio, o direito de voto e de elegibilidade, e o direito de petição, ainda importa recordar outro que também a integra, é o direito de iniciativa popular.

A iniciativa popular de leis, que cabe aos cidadãos (o 2o parágrafo do artigo 61 da Constituição da República brasileira), o referendo e o plebiscito, correspondem a alternativas de participação política (o referendo e o plebiscito devem ser determinados, para que se verifiquem, pelo Congresso Nacional).

O exercício de todos os direitos inerentes ao Estado democrático e do direito de participação, é acompanhado do respeito aos deveres de contribuir para o progresso social e de acatar e respeitar o resultado final obtido em cada consulta coletiva.

A respeito dos direitos fundamentais, os quais representam, na verdade, situações reconhecidas juridicamente sem as quais o homem é incapaz de alcançar sua própria realização e desenvolvimento plenamente, consistindo o resultado da luta dos homens por um direito ideal, justo e humano, que foram e vão sendo aperfeiçoados e estendidos ao longo do tempo, resta dizer que os mesmos estabelecem faculdades da pessoa humana que permitem sua breve classificação do seguinte modo: 1) os direitos de liberdade, como por exemplo, a liberdade de consciência, de propriedade, de manifestação do pensamento, de associação, etc.; 2) os direitos de participação política, tais como a igualdade de sufrágio, o direito de voto e de elegibilidade, o direito de petição, e os direitos de participação política; 3) os direitos sociais, que abrangem os direitos de natureza econômica, como por exemplo, o direito ao trabalho, de assistência à saúde, à educação, etc; 4) os direitos chamados de quarta geração, por exemplo, o direito à preservação do meio ambiente e à qualidade de vida.

CRISTIANE ROZICKI

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

1º ANO – 4º BIMESTRE: EIXO: Liberdade

COMPETÊNCIAS:

  • Compreender e contextualizar conhecimentos filosóficos, no plano sociopolítico, histórico, metafísico e cultural.
  • Aplicar conhecimentos filosóficos no plano existencial, nos projetos de vida e nas relações sociais.
  • Agir de modo livre compreendendo claramente a liberdade do outro e a responsabilidade exigida no comportamento livre.
HABILIDADES:

  • Ler textos filosóficos de modo significativo;
  • Ampliar gradativamente o alcance da leitura filosófica;
  • Elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo;
  • Refletir sobre as condições do agir humano;
  • Compreender e analisar o conceito de liberdade em sua relação com o conceito de determinismo;
  • Compreender que a liberdade humana se exerce em meio às determinações;
  • Confrontar as concepções filosóficas que negam a existência de um livre-arbítrio com aqueles que o afirmam;
  • Compreender que o agir ético é indissociável da relação consigo mesmo e com os outros;
  • Compreender e aplicar a responsabilidade como elemento fundamental na convivência humana.
CONTEÚDOS MÍNIMOS:

A importância da liberdadeO que é liberdade
Limites da liberdade
A liberdade como conquista
Livres com os outros
Liberdade e responsabilidade
A negação da liberdade
A boa e a má escolha


Professor: Neste bimestre pretendemos fazer uma discussão acerca da liberdade humana em todas as suas dimensões. Assim despertando no jovem o ideal de uma educação voltada para a liberdade nos aspectos: ético, político, jurídico e econômico.


Palavras- chaves: Liberdade, Determinismo, Causalidade, Livre-arbítrio e Responsabilidade

SUGESTÕES:

LIVROS:

COMTE-SPONVILLE, Apresentação da Filosofia, capítulo 6 – “A Liberdade”, SP: Martins Fontes, 2002.A palavra liberdade, eleutheria, conforme a etimologia grega significava liberdade de movimento. Tratava-se de uma possibilidade do corpo, não considerada como um dado da consciência ou do espírito.


GALLO, S., Ética e Cidadania. Caminhos da Filosofia, capítulo 8 – “A Liberdade”, Papirus, 1997.

HUXLEY,Aldous. Admirável mundo novo. Rio de Janeiro: Cia Brasileira de Divulgação do Livro, 1969.

LESKY,Albin. A tragédia grega. São Paulo: Perspectiva, 1976.

MARCHAL, THUBERT-COURME, COUTRIER, Philosophie, Paris: Magnard, 2001.

ORKELL, George. A revolução dos bichos. Porto Alegre: Globo, 1964.

________Rio de Janeiro: Nacional, 1975.

PRADO JR., Caio. O que é liberdade. São Paulo: Brasiliense, 1985.

SOUZA, S., Um outro olhar. Filosofia, capítulo 11 – “Liberdade: há limites para o ser humano?”, SP: FTD, 1995.

MÚSICAS:

Canção da Despedida

Geraldo Azevedo
á vou embora
Mas sei que vou voltar
Amor não chora
Se eu volto é pra ficar
Amor não chora
Que a hora é de deixar
O amor de agora
Pra sempre ele ficar
Eu quis ficar aqui
Mas não podia
O meu caminho a ti
Não conduzia
Um rei mal coroado
Não queria
O amor em seu reinado
Pois sabia
Não ia ser amado
Amor não chora
Eu volto um dia
O rei velho e cansado
Já morria
Perdido em seu reinado
Sem Maria
Quando me despedia
No meu canto lhe dizia

Para não dizer que não falei das flores
Geraldo Vandré

Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores

Vencendo o canhão...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não...
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(4x)


Apesar de você
Chico Buarque
(Crescendo) Amanhã vai ser outro dia x 3
Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão
(Coro) Apesar de você
amanhã há de ser outro dia
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora tenha a fineza
de "desinventar"
Você vai pagar, e é dobrado,
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
(Coro2) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
E esse dia há de vir
antes do que você pensa
Apesar de você
(Coro3) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear, de repente,
Impunemente?
Como vai abafar
Nosso coro a cantar,
Na sua frente.
Apesar de você
(Coro4) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai se dar mal, etc e tal,
La, laiá, la laiá, la laiá??

FILMES:

A liberdade, 1997, produzido pela PUC, Folha de São Paulo e SESC.
A maçã, 1998, direção de Samira Makhmalbaf.
Assassinato em primeiro grau, 1995, direção de Marc Rocco.
O quarto Poder, 1997, direção de Constantin Costa-Gravas.
Quilombo, 1984, direção de Carlos Diegues.
Escritores da Liberdade, 2007, direção de Richard LaGravenese

 
TEXTOS:

Liberdade, em filosofia, designa de uma maneira negativa, a ausência de submissão, de servidão e de determinação, isto é, ela qualifica a independência do ser humano. De maneira positiva, liberdade é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito racional. Isto é, ela qualifica e constitui a condição dos comportamentos humanos voluntários.

Não se trata de um conceito abstrato. É necessário observar que filósofos como Sartre e Schopenhauer buscam, em seus escritos, atribuir esta qualidade ao ser humano livre. Não se trata de uma separação entre a liberdade e o homem, mas sim de uma sinergia entre ambos para a auto-afirmação do Ego e sua existência. E na equação entre Liberdade e Vontade, observa-se que o querer ser livre torna-se a força-motriz e, paradoxicamente, o instrumento para a liberação do homem.

Para Kant, ser livre é ser autônomo, isto, é dar a si mesmo as regras a serem seguidas racionalmente. Todos entendem, mas nenhum homem sabe explicar. Uma das obras realizadas por Kant é a Crítica da Razão Pura. Nesta, o estudo do fato da razão torna-se pertinente, pois discorre sobre a liberdade nesse contexto. O fato da razão citado por Kant é a consciência do indivíduo sobre as leis morais vigentes (REALE, 1990, p. 914). Mas esse fato da razão só pode ser admitido com a existência da liberdade, esta liberdade só é admitida com uma intuição intelectual, ou seja, conhecimento. Kant explica aqui que ter consciência das leis morais vigentes não é apenas por vias de intuição, ou conhecimento, puro nem intuitivo, essa consciência, ou fato da razão depende da intuição intelectual, para que se possa ver a liberdade como positiva. Kant chama esse aspecto positivo de autonomia. A liberdade que o homem deve aproveitar, em Kant, diz respeito à vontade. Essa vontade não deve ser bloqueada por nenhum tipo de heteronomia. O livre arbítrio deve ser utilizado de forma pura para que não dependa de nada com relação à lei. Portanto a pessoa dotada de liberdade, ou seja, sem intervenções de outrem, pode fazer uso desta, porém o fará com maior clareza se seu conhecimento e consciência de sua liberdade existir.

Para Spinoza, ser livre é fazer o que segue necessariamente da natureza do agente.

A liberdade suscita ao homem o poder de se exprimir como tal, e obviamente na sua totalidade. Esta é também, a meta dos seus esforços, a sua própria realização.

Apesar de muitas vezes associarmos o conceito de liberdade à decisão e determinação constante, esta não será bem assim, já que a nossa vida é condicionada a cada ousadia e passo. A deliberação está então conduzida pelo envolvente humano, no qual se inserem as leis físicas e químicas, biológicas e psicológicas. Caso contrário passa a chamar-se libertinagem. Associada à liberdade, está também a noção de responsabilidade, já que o acto de ser livre implica assumir o conjunto dos nossos actos e saber responder por eles.

No geral, ser livre é ter capacidade para agir, com a intervenção da vontade.

Para Leibniz, o agir humano é livre a despeito do princípio de causalidade que rege os objetos do mundo material.

A ação humana é contingente, espontânea e refletida. Ou seja, ela é tal que poderia ser de outra forma (nunca é necessária) e por isso, contingente. É espontânea porque sempre parte do sujeito agente que, mesmo determinado, é responsável por causar ou não uma nova série de eventos dentro da teia causal. É refletida porque o homem pode conhecer os motivos pelos quais age no mundo e, uma vez conhecendo-os, lidar com eles de maneira livre.

Para Schopenhauer, a ação humana não é, absolutamente, livre. Todo o agir humano, bem como todos os fenômenos da natureza, até mesmo suas leis, são níveis de objetivação da coisa-em-si kantiana que o filósofo identifica como sendo puramente Vontade.

Para Schopenhauer, o homem é capaz de acessar sua realidade por um duplo registro: o primeiro, o do fenômeno, onde todo o existente reduz-se, nesse nível, a mera representação. No nível essencial, que não deixa-se apreender pela intuição intelectual, pela experiência dos sentidos, o mundo é apreendido imediatamente como vontade, Vontade de Vida. Nesse caso, a noção de vontade assume um aspecto amplo e aberto, transformando-se no princípio motor dos eventos que sucedem-se na dimensão fenomênica segundo a lei da causalidade.

O homem, objeto entre objetos, coisa entre coisas, não possui liberdade de ação porque não é livre para deliberar sobre sua vontade. O homem não escolhe o que deseja, o que quer. Logo, não é livre - é absolutamente determinado a agir segundo sua vontade particular, objetivação da vontade metafísica por trás de todos os eventos naturais. O que parece deliberação é uma ilusão ocasionada pela mera consciência sobre os próprios desejos.

Para Jean-Paul Sartre, a liberdade é a condição ontológica do ser humano. O homem é, antes de tudo, livre. O homem é livre mesmo de uma essência particular, como não o são os objetos do mundo, as coisas. Livre a um ponto tal que pode ser considerado a brecha por onde o Nada encontra seu espaço na ontologia. O homem é nada antes de definir-se como algo, e é absolutamente livre para definir-se, engajar-se, encerrar-se, esgotar a si mesmo. O tema da liberdade é o núcleo central do pensamento sartriano e como que resume toda a sua doutrina. Sua tese é: a liberdade é absoluta ou não existe. Sartre recusa todo determinismo e mesmo qualquer forma de condicionamento. Assim, ele recusa Deus e inverte a tese de Lutero; para este, a liberdade não existe justamente porque Deus tudo sabe e tudo prevê. Mas como deus não existe, a liberdade é absoluta. E recusa também o determinismo materialista: se tudo se reduzisse à matéria, não haveria consciência e não haveria liberdade. Qual é, então, o fundamento da liberdade? É o nada, o indeterminismo absoluto. Agora entende-se melhor a má fé: a tendência a ser termina sendo a negação da liberdade. Se o fundamento da consciência é o nada, nenhum ser consegue ser princípio de explicação do comportamento humano. Não há nenhum tipo de essência - divina, biológica, psicológica ou social - que anteceda e possa justificar o ato livre. É o próprio ato que tudo justifica. Por exemplo: de certo modo, eu escolho inclusive o meu nascimento. Por que? Se eu me explicasse a partir de meu nascimento, de uma certa constituição psicossomática, eu seria apenas uma sucessão de objetos. Mas o homem não é objeto, ele é sujeito. Isso significa que, aqui e agora, a cada instante, é a minha consciência que está "escolhendo", para mim, aquilo que meu nascimento foi. O modo como sou meu nascimento é eternamente mediado pela consciência, ou seja, pelo nada. A falsificação da liberdade, ou a má fé, reside precisamente na invenção dos determinismos de toda espécie, que põem no lugar do nada o ser.

A liberdade humana revela-se na angústia. O homem angustia-se diante de sua condenação à liberdade. O homem só não é livre para não ser livre, está condenado a fazer escolhas e a responsabilidade de suas escolhas é tão opressiva, que surgem escapatórias através das atitudes e paradigmas de má-fé, onde o homem aliena-se de sua própria liberdade, mentindo para si mesmo através de condutas e ideologias que o isentem da responsabilidade sobre as próprias decisões.

Para Carlos Bernardo González Pecotche, a liberdade é prerrogativa natural do ser humano, já que nasce livre, embora não se dê conta até o momento em que sua consciência o faz experimentar a necessidade de exercê-la como único meio de realizar suas funções primordiais da vida e o objetivo que cada um deve atingir como ser racional e espiritual. Como princípio, assinala ao homem e lhe substancia sua posição dentro do mundo.

É preciso vinculá-la muito estreitamente ao dever e à responsabilidade individual, pois estes dois termos, de grande conteúdo moral, constituem a alavanca que move os atos humanos, preservando-os do excesso, sempre prejudicial à independência e à liberdade de quem nele incorre.

A liberdade é como o espaço, e que depende do ser humano que ela seja, também como ele, mais ampla ou mais estreita, vinculada ao controle dos próprios pensamentos e das atitudes. O conhecimento é o grande agente equilibrador das ações humanas e, em conseqüência, ao ampliar os domínios da consciência, é o que faz o ser mais livre.

Nos Manuscritos Economico-filosóficos e em A Ideologia Alemã, Karl Marx entende a liberdade humana como a constante criação prática pelos indivíduos de circunstâncias objetivas nas quais despontam suas faculdades, sentidos e aptidões (artísticas, sensórias, teóricas...). Ele, assim, critica as concepções metafísicas da liberdade.

Para ele, não há liberdade sem o mundo material no qual os indivíduos manifestam na prática sua liberdade junto com outras pessoas, em que transformam suas circunstâncias objetivas de modo a criar o mundo objetivo de suas faculdades, sentidos e aptidões. Ou seja, a liberdade humana só pode ser encontrada de fato pelos indivíduos na produção prática das suas próprias condições materiais de existência.

Desse modo, se os indivíduos são privados de suas próprias condições materiais de existência, isto é, se suas condições objetivas de existência são propriedade privada (de outra pessoa, portanto), não há verdadeira liberdade, e a sociedade se divide em proletários e capitalistas. Sob o domínio do capital, a manifestação prática da vida humana, a atividade produtiva, se torna coerção, trabalho assalariado; as faculdades, habilidades e aptidões humanas se tornam mercadoria, força de trabalho, que é vendida no mercado de trabalho, e a vida humana se reduz à mera sobrevivência.

Marx diz que as várias liberdades parciais que existem no capitalismo - por exemplo, a liberdade econômica (de comprar e vender mercadorias), a liberdade de expressão ou a liberdade política (decidir quem governa) - pressupõem que a separação dos homens com relação as suas condições de existência seja mantida, pois, caso essa separação seja atacada pelos homens em busca de sua liberdade material fundamental, todas essas liberdades parciais são suspensas (ditadura) para restabelecer o capitalismo. Mas se a luta dos indivíduos privados de suas condições de existência (proletários) tiver êxito e se eles conseguirem abolir a propriedade privada dessas condições, seria instaurado o comunismo, que ele entende como a associação livre dos produtores.

No livro A Sociedade do Espetáculo, Guy Debord, ao criticar a sociedade de consumo e o mercado, afirma que a liberdade de escolha é uma liberdade ilusória, pois escolher é sempre escolher entre duas ou mais coisas prontas, isto é, pré-determinadas por outros. Uma sociedade como a capitalista onde a única liberdade que existe socialmente é a liberdade de escolher qual mercadoria consumir impede que os indivíduos sejam livres na sua vida cotidiana. A vida cotidiana na sociedade capitalista se divide em tempo de trabalho (que é não-livre, submetido à hierarquia de administradores e às exigências de lucro impostas pelo mercado) e tempo de lazer (onde os indivíduos tem uma liberdade domesticada que é escolher entre coisas que foram feitas sem liberdade durante o tempo de trabalho da sociedade). Assim, a sociedade da mercadoria faz da passividade (escolher, consumir) a liberdade ilusória que se deve buscar a todo o custo, enquanto que, de fato, como seres ativos, práticos (no trabalho, na produção), somos não-livres,

"Quando se diz que a liberdade de um acaba quando começa a liberdade do outro, o que se procura no fundo é evitar o questionamento do que deva ser a liberdade. A posição limita-se a considerar o seu exercício, sem maiores especulações sobre o que efetivamente possa ser considerado como liberdade. Nessas condições, admite-se como direito de liberdade de um indivíduo ele realizar tudo quanto queira desde que suas ações não venham interferir na vida do outro. http://pt.wikipedia.org/wiki/Liberdade


Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

MEIRELES, Cecília. Ou isto ou aquilo. 5.ed. Rio de Janeiro: -Civilização Brasileira, 1981. p. 57.


Livre-arbítrio

(...) Você está fila de um restaurante e, quando chega ao balcão das sobremesas, hesita entre um pêssego e uma fatia de bolo de chocolate. O bolo parece gostoso, mas você sabe que engorda. Mesmo assim, você o escolhe e come com prazer. No dia seguinte, você olha no espelho, ou sobe na balança, e pensa: “Eu não devia ter comido aquele bolo de chocolate. Poderia ter comido o pêssego. (...)

Os pêssegos estavam ali. Você teve oportunidade de pegar o pêssego, poderia tê-lo comido. Antes de se decidir você tinha a possibilidade de pegar a fruta ou o bolo, e foi a sua escolha que decidiu qual dos dois seria. (...)

De fato pode significar que até o momento da escolha não há nada que a determine. Permanece a possibilidade de que você escolha o pêssego até o momento em que escolha o bolo de chocolate. Não se trate de algo predeterminado.

Algumas coisas que acontecem são predeterminadas. Por exemplo, parece predeterminado que o Sol nascerá amanhã numa certa hora. Não está aberta a possibilidade de que o Sol não nasça amanhã e de que a noite se prolongue.

Desta forma, (...) quando você diz que poderia ter comido o pêssego em vez do bolo de chocolate, quer dizer que não estava predeterminado o que você faria, tal como está predeterminado que o Sol nascerá amanhã. Não havia nenhum processo ou força em ação, antes da sua escolha, que fizesse com que você escolhesse o bolo de chocolate em vez do pêssego (...).

Há de observamos que (...) em cada situação, as circunstâncias que se apresentam antes de agirmos determinam nossas ações, tornando-as inevitáveis. A soma total das experiências, dos desejos e do conhecimento de uma pessoa, a hereditariedade, circunstâncias sociais, enfim, vários outros fatores, combinam-se para tornar inevitável uma ação particular nessas circunstâncias. Essa visão chama-sedeterminismo. (...) A idéia é a de que existem leis naturais, como as que governam o movimento dos planetase tudo o que acontece no mundo (...) determinam o que irá ocorrer e excluem qualquer outra possibilidade (...).

(NAGEL, T. Uma Breve Introdução à Filosofia. Trad. Silvana Vieira. São Paulo: Martins Fontes, 2001. Primeira Edição. pp. 49-61


Liberdade

(...) “Os homens imaginam ser livres”, escreve Spinoza, “porque têm consciência das suas volições e dos seus desejos, e não pensam, nem em sonho, nas causas pelas quais se dispuseram a desejar e a querer, por não terem o menor conhecimento delas”. Você faz o que quer? Claro! Mas por que quer? Sua vontade faz parte do real: ela está submetida, como todo o resto, ao princípio de razão suficiente (nada existe sem razão: tudo se explica), ao princípio de causalidade (nada nasce de nada: tudo tem uma causa), enfim ao determinismo geral dos seres macroscópicos. E ainda que houvesse, no nível microscópico, um determinismo último (...) nem por isso você deixaria de ser determinado, no nível neurobiológico, pelos átomos que o compõem.

Os movimentos deles podem ser aleatórios, mas está fora de cogitação que eles obedeçam à sua vontade: ao contrário, ela é que depende deles. O acaso não é livre. Como uma vontade casual poderia ser?

(COMTE-SPONVILLE, André. “A Liberdade”. In: Apresentação da Filosofia. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2002. pp.67-68).


"LIBERDADE COM CONDIÇÕES

A liberdade tem muitos apaniguados. Os liberais consideram-se seus defensores acreditados. Mas os marxistas, contra quem combatem, pretendem preparar, em oposição àqueles, o verdadeiro para lá das suas caricaturas. Existencialistas e cristãos colocam-na também no centro das suas perspectivas, embora a sua concepção não coincida, nem coincida com nenhuma das outras duas. Porquê tanta confusão? Porque cada vez que a isolamos da estrutura total da pessoa, exilamos a liberdade para alguma aberração.

A liberdade não é uma coisa. ? Se não existe liberdade, quem somos nós? Joguetes em pleno universo. É esta a razão de nossas angústias. Para as apaziguar queríamos surpreender a liberdade em flagrante delito, tocá-la como se toca num objecto, pelo menos prová-la como se prova um teorema; assentar definitivamente em que há liberdade no mundo. Mas em vão. A liberdade é afirmação da pessoa, vive-se, não se vê. no mundo objectivo senão coisas dadas e situações que se cumprem. Por isso, porque não podemos instalar nele a liberdade, procuramo-la nas suas formas negativas; uma ausência de causa, uma lacuna no determinismo. Mas, que posso eu fazer com lacunas? E é assim que nunca chegamos a descobrir, não diremos na natureza, mas ao seu nível, mais do que duas formas mal definidas de liberdade.

Uma é uma liberdade de indiferença: liberdade de nada ser, de nada desejar, de nada fazer; não só indeterminismo com indeterminação total. Alguns liberais e outros espíritos anarquizantes, vêem sob este prisma a liberdade de pensamento e a de acção. Mas o homem nunca conhecerá este estado de equilíbrio:fazendo-lhe acreditar que ele é possível, iludem-se suas opções reais, ou então arrastamo-lo definitivamente para o gosto mortal da indiferença.

A outra é que aquela que mendigamos ao indeterminismo físico. Fez-se um grande alarde com as novas perspectivas que a física moderna veio abrir, quis-se obrigá-la a . Era uma idéia totalmente errada de liberdade.

A liberdade do homem não é o duma adição universal. Uma liberdade que mais não fosse do que irregularidade do universo, que poderia provar que não se reduziria a simples deficiência dos nossos conhecimentos, ou então deformação sistemática da natureza ou do homem? Que valor tem para mim esse defeito? O indeterminismo dos físicos modernos mais não faz do que desarmar as pretensões positivistas. A liberdade não se ganha contra os determinismos naturais, conquista-se por cima deles, mas com eles".



LIBERDADE

Liberdade também teve como significado ausência de limitações e coações. A palavra alemã Freiheit (liberdade) tem origem histórica nos vocábulos freihals ou frihals. Ambos significavam “pescoço livre” (frei Hals), livre dos grilhões mantidos nos escravos.

Na Antigüidade, a liberdade era uma qualidade do cidadão, do homem considerado livre na estrutura da polis. A expressão da liberdade era sobretudo política. Estava mais próxima do status libertatis, adquirido entre privilégios estamentais. Os antigos não conheciam a liberdade individual como autonomia ou determinação.

Poder e liberdade eram palavras praticamente sinônimas. Compreendia-se a liberdade como o poder de se movimentar sem impedimentos, seja em razão da debilidade do corpo, seja em razão da necessidade ou mesmo em razão do impedimento oposto por ordem de um senhor. O “eu posso” era mais representativo do que o “eu quero”. O acréscimo da liberdade com um dado da consciência pode ser historicamente visualizado com a descoberta da interioridade humana, região íntima responsável por determinar o modo de ser de cada um e a projeção que cada qual tem para o seu futuro.

Muito tempo se passou até que a liberdade deixasse de indicar um status político, ou uma circunstância aleatória de não impedimento e passasse a incorporar em seu significado uma disposição interior, uma qualidade íntima que prescindia do agir, um querer desvinculado do poder.

Essa liberdade estática, impermeável a toda influência externa, esteve presente no pensamento filosófico, intimamente associada à idéia de vontade.

São Paulo enfatizava a impotência da vontade ao afirmar que “eu não faço o que quero, faço exatamente o que odeio”. Santo Agostinho traduziu a idéia de que é possível querer o que não se pode fazer e é possível que se faça o que não se quer. Mesmo ausente qualquer impedimento externo, era possível querer e ao mesmo tempo ser incapaz de realizar o que se queria. Samuel von Pufendorf (1632-1694), no século XVII, distinguia ações internas de ações externas. O que ficava guardado no coração interessava apenas à religião. Christian Thomasius (1655-1728), no começo do século XVIII, estabelecia diferenças entre “foro íntimo” e “foro externo”, de forma a diferenciar moral de direito. Para Thomas Hobbes (1588–1679), liberdade e obrigação eram incompatíveis. Immanuel Kant (1724-1804), no final do século XVIII, entendeu a liberdade como liberdade de consciência. Para seu resguardo, somente a conduta exteriorizada estaria sujeita a coibições.

No Iluminismo, a liberdade de consciência ganhou importância no campo político. Transpareceu o paradoxo de se admitir que um Estado fundado na inviolabilidade da personalidade exercesse coação sobre os cidadãos para que agissem de forma contrária às suas consciências. Várias fórmulas foram idealizadas para contornar o conflito.

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), por exemplo, considerando a interioridade, definiu a liberdade como dever de obediência às próprias leis. Ao participar da criação da vontade da lei, a vontade geral substituía a vontade individual. A liberdade como autonomia e autodeterminação passou a ser considerada como um dado político, fundacional do Estado. A liberdade começou a existir no Estado, e apenas nele, conforme aquilo que foi pactuado. O resultado foi a perda da dimensão individual da liberdade. A vida não era mais considerada uma dádiva da natureza, era um dom concedido pelo Estado.

A reconciliação entre liberdade e obediência foi sintetizada por Georg Hegel (1770–1831). A partir deste filósofo, o homem foi compreendido em seu contexto social. Com a formulação de uma consciência objetiva geral, contraposta à subjetividade individual, Hegel entendeu a liberdade no plano objetivo, liberdade concreta, integrada ao interesse geral, orientada pela ética e pelas normas jurídicas. Nesta concepção dinâmica, é livre quem reconhece a lei e a segue como substância do seu próprio ser.

A liberdade é condicionada pelos interesses coletivos.

Tal fórmula não permitia a exteriorização de um querer não objetivado. A consciência, especificidade subjetiva, não tinha realidade no âmbito estatal. Valia a fórmula de que a liberdade consiste em fazer o que devemos querer.

Benjamin Constant (1767-1830) contextualizou duas concepções de liberdade, considerando fatores externos e internos que a determinam: a liberdade dos antigos e a liberdade dos modernos.

Enquanto a liberdade dos antigos era desdobramento da confluência entre religião e política, a liberdade dos modernos foi considerada a partir da dissociação de ambas. Ao mesmo tempo em que os antigos podiam decidir sobre a paz e a guerra, julgar magistrados e superiores, eram, em contraste, no plano privado, submetidos a vigilância severa. E, sem liberdade de crença, opinião ou ação, sujeitavam-se à autoridade do conjunto. Despojados da dignidade, podiam ser banidos ou condenados à morte. A liberdade dos modernos, de seu lado, foi considerada como autonomia, para impedir a vontade arbitrária de um ou de vários indivíduos sobre uma individualidade. Foi focalizada para estabelecer limites de interferência do Estado na vida individual. Em desdobramento, reconheceu-se um direito individual de se submeter apenas à lei, de não ser preso, morto ou maltratado.

Outra classificação, essencial para a compreensão da liberdade, foi concebida a partir da teoria do status, desenvolvida no final do século XIX por Georg Jellinek (1851-1911). Ao considerar, de forma simplificada, uma teoria analítica das situações do indivíduo perante o Estado, Jellinek considerou quatro situações: o status subiectiones (passivo), correspondente à situação de absoluta submissão dos indivíduos ao Estado, em razão dos deveres a eles impostos; o status negativus (status libertatis), estado de liberdade natural, esfera de liberdade individual onde não se permite intervenção do Estado; o status positivus ou status civitatis que consiste na capacidade de exigir do Estado prestações positivas conforme o interesse individual e, em complemento, o status de cidadania ativa, consistente na capacidade de votar leis, de integrar órgãos públicos e de participar na formação da vontade estatal.

O status subjectiones e o status libertatis foram considerados em linha direta, ou seja, de forma que a ampliação do âmbito dos deveres implicava redução do âmbito de liberdades. Ou existia sujeição ou existia liberdade. Sem composição entre as duas esferas, o espaço concedido à liberdade poderia ser pouco ou nenhum.

A imposição de deveres, resultantes do status subjectiones e do status civitatis, acabava por neutralizar ou anular o status libertatis. A estrutura foi caracterizada por Niklas Luhmann (1927-1999) como “zwar-aber”. O homem é livre, mas deve respeitar o direito dos outros. Tem autonomia, mas é obrigado a conformá-la segundo a perspectiva social.

Doutrinas mais recente tendem a incrementar, sob perspectiva dinâmica, a compreensão das situações ativa e passiva do indivíduo frente ao Estado, procurando situá-lo no tempo e espaço em que vive reconhecendo-lhe aptidão para consentir e dissentir em interação. A liberdade não é transcendente, deve ser vivenciada pelo homem situado em seu tempo.

Peter Häberle (1934- ) acrescentou à teoria do status de Jellinek, o status activus processualis, um reforço dado à liberdade individual frente aos interesses coletivos. O procedimento aparece como direito fundamental diferenciado, que é, ao mesmo tempo, garantia de liberdade e limitador do poder estatal. Projeta-se na ordem jurídica como proteção antecipada de direitos e liberdades, capaz de garantir posicões em que a autodeterminação e a liberdade de vontade são relevantes. O procedimento funciona como fórmula extensora do espaço de liberdade ameaçado quando do exercício das funções prestacionais do Estado.

Nas declarações de direitos do século XVIII, predominaram as liberdades negativas, correspondentes a deveres de abstenção por parte do Estado. Enfatizava-se a autonomia moral do indivíduo. Refletiu o significado desta liberdade a expressão “aquilo que não for obrigatório, nem proibido, delimita o que é lícito e, portanto, permitido”.

Após a Primeira Guerra Mundial, as Constituições, legislações e declarações de direitos, no plano internacional, incorporaram duplicidade de direitos: direitos, garantias e liberdades, de um lado, e direitos sociais de outro.

As Constituições contemporâneas deram ênfase à liberdade positiva, condicionada à intervenção do poder público, concebida para realização de fins públicos, objetivos predeterminados pelo Estado. Tal liberdade foi pensada como garantia de condições para o desenvolvimento do potencial humano em sociedade. A garantia de eficácia de direitos e liberdades tem como corolário a inflição de deveres ao indivíduo, tanto de abstenção de condutas como de realização de conduta determinada.

O conflito entre autonomia e obediência foi revitalizado. A idéia de coletivização dos direitos individuais ou de publicização de suas garantias, desvinculada da compreensão da liberdade de consciência, autonomia e autodeterminação, acaba por padronizar anseios pessoais e ocultar perspectivas individuais, o que faz prevalecer um direito padronizado a prestações positivas por parte do Estado, uma rede de tutelas e deveres que se sobrepõe à esfera de determinação subjetiva.

No âmbito de cada nação, tem sido discutida com freqüência a necessidade de se reconhecer autonomia individual e capacidade para fazer valer direitos (status activus processualis), garantindo-se informação, participação, impugnação de decisões e de atos lesivos à liberdade, a toda pessoa, independentemente de qualidades pessoais, tais como raça, sexo, idade, nacionalidade e da situação jurídica em que se encontre. Tudo isso, a fim de que a compreensão do ser humano na sua individualidade seja revigorada. O aspecto subjetivo da liberdade, muitas vezes neutralizado, subestimado e não materializado quando a liberdade é concebida em termos coletivos, deve ser necessariamente enfatizado.

A história traz exemplos de que a liberdade teve como conteúdo tanto a tirania do mais forte sobre o mais fraco como o aniquilamento de uma minoria pela maioria. Não é apenas no âmbito da licitude e da tutela jurídica que se reconstrói a história da liberdade. A luta pela liberdade é visualizada, também, na constatação da ausência de liberdade. Interessa não só a liberdade permitida, mas também aquela coibida no seu exercício. Assim, o oposto da liberdade e as garantias para que a liberdade seja usufruída integram, também, a temática da liberdade.

Situações complexas, nas quais o indivíduo precisa da força estatal para remover obstáculos e fazer valer sua liberdade perante outra pessoa, grupos sociais ou mesmo contra o próprio Estado, devem ser consideradas como problemas jurídicos quando da conformação dos mecanismos de tutela da liberdade, tanto no âmbito jurídico de cada Estado como na ordem jurídica internacional.

A discussão sobre a liberdade segue caminhos tortuosos, em movimentos nunca estabilizados. Não é questão acabada. Há dificuldade de delimitação entre a liberdade entendida como não impedimento e a liberdade entendida como expressão da vontade comum. Ambas não prescindem da autonomia e capacidade de autodeterminação. Daí a dificuldade de determinação do âmbito de proteção, de tutela da liberdade. Preocupações existem quanto à preservação da liberdade de ação subjetiva, segundo valores e interesses próprios, um espaço que a ninguém cabe interferir. Outro questionamento fundamental diz com fórmulas invasivas de proteção. Até que ponto e sob quais fundamentos controles, condicionamentos e manipulações podem ser utilizados para impelir o fazer e influenciar no modo de ser?


Texto para aprofundar o conceito de determinismo e de liberdade:

"Vou contar-te um caso dramático. Já ouviste falar das térmitas, essas formigas brancas que, em África, constroem formigueiros impressionantes, com vários metros de altura e duros como pedra. Uma vez que o corpo das térmitas é mole, por não ter a couraça de quinina que protege os outros insetos, o formigueiro serve-lhes de carapaça coletiva contra certas formigas inimigas, mais bem armadas do que elas. Mas por vezes um dos formigueiros é derrubado, por causa duma cheia ou de um elefante (os elefantes, que havemos nós de fazer, gostam de coçar os flancos nas termiteiras). A seguir as térmitas-operário começam a trabalhar para reconstruir a fortaleza afetada, e fazem-no com toda a pressa. Entretanto, já as grandes formigas inimigas se lançam ao assalto. As térmitas soldado saem em defesa da sua tribo e tentam deter as inimigas. Como nem no tamanho nem no armamento podem competir com elas, penduram-se nas assaltantes tentando travar o mais possível o seu avanço, enquanto ferozes mandíbulas invasoras as vão despedaçando. As operárias trabalham com toda a velocidade e esforçam-se por fechar de novo a termiteira derrubada…mas fecham-na deixando de fora as pobres e heróicas térmitas-soldado, que sacrificam as suas vidas pela segurança das restantes formigas. Não merecerão estas formigas pelo menos uma medalha? Não será justo dizer que são valentes?

Mudo agora de cenário, mas não de assunto. Na Ilíada, Homero conta a história de Heitor, o melhor guerreiro de Tróia, que espera a pé firme, fora das muralhas da sua cidade, Aquiles, o enfurecido campeão dos Aqueus, embora sabendo que Aquiles é mais forte e que ele provavelmente vai matá-lo. Fá-lo para cumprir o seu dever, que consiste em defender a família e os concidadãos do terrível assaltante. Ninguém tem dúvidas: Heitor é um herói, um homem valente como deve ser. Mas será Heitor heróico e valente da mesma maneira que as térmitas-soldado, cuja gesta milhões de vezes repetida nenhum Homero se deu ao trabalho de contar? Não faz Heitor, afinal de contas, a mesma coisa que qualquer uma das térmitas anônimas? Porque nos parece o seu valor mais autêntico e mais difícil do que o dos insetos? Qual é a diferença entre um e outro caso?”

Fernando Savater, Ética para um jovem, Ed. Presença, Lisboa, pp. 21-22.