- Aplicar conhecimentos filosóficos no plano existencial, nos projetos de vida e nas relações sociais;
- Preparar de modo eficiente para o exercício do trabalho;
HABILIDADES:
- Ler textos filosóficos de modo significativo;
- Ampliar gradativamente o alcance da leitura filosófica;
- Elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo;
- Desenvolver a versatilidade profissional
CONTEÚDOS MÍNIMOS:
- A história do trabalho
- O conflito entre trabalho e realização
- A ética capitalista do trabalho
- O valor dado ao trabalho
- Trabalho e alienação
- A realização no mercado consumidor
ARBEX José; TOGNOLI, Cláudio J. O mundo pós-moderno. São Paulo: Scipione (ponto de apoio), 1996.
MAGNOLI, Demétrio; ARBEX, José; OLIC, Nelson Bacic. Panorama do mundo. São Paulo: Scipione, 1996.
MARTINEZ, Paulo. Direitos de cidadania: um lugar ao sol. São Paulo: Scipione, 1996.
Sugestões de Filmes:
Eles não usam black-tie, 1981 dirigido por Leon Hirszman
Tempos modernos, 1936, direção: Charles Chaplin
The Corporation, 2003, Produção: Mark Achbar, Bart Simpson
Camelos também choram, 2003, Byambasuren Davaa e Luigi Falorni
Rosalie vai às compras, 1989, Percy Adlon:
Oscar Niemeyer – A vida é um sopro, 2007, Brasil, Fabiano Maciel
A classe operária vai ao paraíso, 1971, Itália, Elio Petri
Sugestões de Textos:
O PAPALAGUI NÃO TEM TEMPO
Tuiávii, Chefe da Tribo Tiaveá na Polinésia
Pouca gente há na Europa que tenha tempo, de fato; talvez ninguém mesmo. É por isto que quase todos levam a vida correndo com a velocidade de pedras atiradas por alguém. Quase todos andam olhando e balançando com os braços para caminhar o mais depressa possível. Se alguém o faz parar, dizem, mal-humorados : "Não me aborreças, não tenho tempo, vê se aproveitas melhor o teu". Dá a impressão de que aquele que anda depressa vale mais e é mais valente do que aquele que anda devagar.
Vi um homem com a cabeça estourando, os olhos virados, a boca aberta feito a de um peixe agonizante, a cara passando de vermelha a verde, batendo com as mãos e os pés, porque um criado tinha chegado um pouquinho mais tarde do que prometera. Esse pouquinho era para ele um grande prejuízo, prejuízo irreparável. O criado teve de ir-se embora, o Papalagui expulsou-o e recriminou-o : "Roubaste-me tempo demais ! Quem não presta atenção ao tempo, não merece o tempo que tem!".
Só uma vez é que deparei com um homem que tinha muito tempo, que nunca se queixava de não tê-lo, mas era pobre; sujo, e desprezado. Os outros passavam longe dele, ninguém lhe dava importância. Não compreendi essa atitude porque ele andava sem pressa, com os olhos sorrindo, mansa, suavemente. Quando lhe falei, fez uma careta e disse, tristemente : "Nunca soube aproveitar o tempo; por isto, sou pobre, sou um bobalhão". Tinha tempo, mas não era feliz.
O Papalagui emprega todas as forças que tem tentando alongar o tempo o mais possível. Serve-se da água e do fogo, da tempestade e dos relâmpagos que brilham no céu, para fazer parar o tempo. Põe rodas de ferro nos pés, dá asas às palavras que diz para ter mais tempo. Mas para que todo este esforço? O que é que o Papalagui faz com o tempo? Nunca compreendi bem, pelos seus gestos e suas palavras, ele sempre tenha me dado a impressão de alguém a quem o Grande Espírito convidou para um fono.
Acho que o tempo lhe escapa tal qual a cobra na mão molhada, justamente porque a segura com força demais. O Papalagui não espera que o tempo venha até ele, mas sai ao seu alcance, sempre, sempre com as mãos estendidas e não lhe dá descanso, não deixa que o tempo descanse ao Sol. O tempo é quieto, pacato, gosta de descansar, de deitar-se à vontade na esteira. O Papalagui não sabe perceber onde está o tempo, não o entende e é por isto que o maltrata com os seus costumes rudes.
Ó amados irmãos! Nunca nos queixamos do tempo; amamo-lo conforme vem, nunca corremos atrás dele, nunca pensamos em ajuntá-lo nem em partí-lo. Nunca o tempo nos falta, nunca nos enfastia. Adianta-se aquele dentre nós que não tem tempo! Cada um de nós tem tempo em quantidade e nos contentamos com ele. Não precisamos de mais tempo do que temos e, no entanto, temos tempo que chega. Sabemos que no devido tempo havemos de chegar ao nosso fim e que o Grande Espírito nos chamará quando for sua vontade, mesmo que não saibamos quantas Luas nossas passaram. Devemos livrar o pobre Papalagui, tão confuso, da sua loucura! Devemos devolver-lhe o verdadeiro sentido do tempo que perdeu. Vamos despedaçar a sua pequena máquina de contar o tempo e lhes ensinar que, do nascer ao pôr do Sol, o homem tem muito mais tempo do que é capaz de usar.
O PEDREIRO VALDEMAR
“Você conhece o pedreiro Valdemar?
Não conhece? Mas eu vou lhe apresentar.
De madrugada toma o trem da Circular,
Faz tanta casa e não tem casa pra morar. (Bis)
Leva a marmita embrulhada no jornal
Se tem almoço, nem sempre tem jantar.
O Valdemar, que é mestre no ofício,
Constrói um edifício e depois não pode entrar”.
Marchinha de carnaval carioca – 1949- Roberto Martins e Wilson Batista
A GLOBALIZAÇÃO E A CRISE DO SOCIAL
"O atual padrão mundial de acumulação e desenvolvimento, assentado no domínio das informações, do saber e das novas tecnologias — e não apenas do capital e do poder de coerção — reduz a oferta de empregos produtivos e reforça as tendências de exclusão de uma parcela cada vez maior de seres humanos das condições e dos frutos do desenvolvimento, agravando o desemprego, a miséria e as diversas formas de alienação. Ao valorizar a competição que favorece o mais poderoso e/ou mais apto (e nesse sentido revalorizando a desigualdade em detrimento da solidariedade, da justiça e da eqüidade), a reestruturação em curso vem estimulando novos e velhos preconceitos sociais, religiosos, nacionais, étnicos.
O desenvolvimento capitalista – universalizador e diferenciador da humanidade - é hoje soberano e reina em todos os quadrantes do planeta praticamente sem concorrência.
A globalização da sociedade humana se consuma sob a égide desse modo de produção e de seu estilo de vida social. O planeta configura-se hoje como um espaço social unificado e desigualmente dividido. A divisão do trabalho e da riqueza entre Norte e Sul articula-se com as profundas diferenças intraregionais e nacionais. Os indicadores de miséria e exclusão social são assustadores na Ásia, na África e na América Latina. Mas também estão presentes, embora em outra escala, nas sociedades de capitalismo avançado, de consumo de massa e de welfare state.
Situação, aliás, que vem se agravando nas duas últimas décadas, marcadas por períodos de recessão, endividamento internacional, concentração da riqueza, reestruturação produtiva e liberalização indiscriminada dos mercados. O esemprego e o subemprego, estruturalmente críticos e endêmicos no chamado ‘Terceiro Mundo', crescem em proporções ameaçadoras à estabilidade sócio-política nas nações capital: mais avançadas. A OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Eco mico) admite a existência de mais de 35 milhões de desempregados entre seus 24 países membros; outros tantos perderam o emprego com a reestruturação forçada no antigo bloco soviético; enquanto mais da metade da população economicamente ative África, Ásia e América Latina situa-se fora do mercado formal de trabalho e, assim, do acesso aos meios de desenvolvimento e de exercício dos direitos de cidadania.
No caso brasileiro, esta crise/esgotamento do modelo de regulação do Estado tornou-se ainda mais explícita com a exigência da sociedade civil e as reivindicações de diferentes categorias e movimentos sociais por direitos de cidadania. As instituições estatais-corporativas de controle e coerção perderam progressivamente a sua eficácia deixando, assim, de serem funcionais à reprodução da ordem.
Por tudo isso, parece razoável supor que a crise do Estado brasileiro se insere em uma crise dos Estados nacionais e de suas formas objetivas de regulação. “Esta crise torna-se mais ampla e complexa quando a associamos à desarticulação das entidades coletivas das classes subalternas, enquanto atores sociais e políticos, e à reestruturação da economia mundial e das relações internacionais.”
ABREU, Haroldo. Proposta, experiências em educação popular. Rio de Janeiro, ano 23, n. 64, mar. 1995. p. 13-6.
TRABALHO INFANTIL: ONTEM E HOJE CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO NA FRANÇA DO SÉCULO XIX
“O médico Louis Villermé escreveu em 1840 sobre as condições dos trabalhadores nas fábricas francesas. Homens, mulheres e crianças trabalhavam de 12 a 14 horas por dia: 'Muitos, cinco mil em dezessete mil, eram obrigados, pela carestia das rendas, c instalar-se nas aldeias vizinhas. Alguns habitavam a duas léguas e um quarto da manufatura onde trabalhavam. (...) O trabalho começava às cinco da manhã e acabava às cinco da tarde, tanto no verão como no inverno. (...) (Suas casas) miseráveis instalações onde dormiam duas famílias cada uma a seu canto, sobre a palha colocada sobre c tijolo e retida por duas tábuas. (...) Não é um trabalho, uma tarefa, é uma tortura e infligem-na a crianças de seis a oito anos. (...) É esse longo suplício de todos os dias que mina sobretudo os operários nas fábricas de fiação de algodão'."
LAFARGUE, Paul. O direito à preguiça. Lisboa: Estampa, 1977. p.23-4
A REALIDADE DO TRABALHO INFANTIL
“(...) A exploração do trabalho infantil constituise num grave problema social A Constituição proíbe qualquer trabalho infantil antes de a criança completar 14 anos de idade, salvo na condição de aprendiz, situação permitida apenas a partir dos 12 anos. Mesmo assim, tal atividade deve ser reconhecidamente leve, excluindo-se, por exemplo, o trabalho exercido nas indústrias, nas oficinas e na agricultura.
Registro um fato importante: estando a criança ou o adolescente trabalhando, é fundamental que lhe seja assegurada a oportunidade de educação. Dentro da chamada mão-de-obra invisível, as crianças e os adolescentes não aparecem nas estatísticas oficiais e não têm direitos trabalhistas e benefícios previdenciários garantidos. Mas, segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), formam no Brasil um exército silencioso de 7,5 milhões de menores, que não têm infância e trabalham como adultos. Técnicos do Ministério do Trabalho já constataram crianças com chupeta na boca e uma enxada em suas mãos. A tragédia infanto-juvenil no campo deve ser hoje a grande preocupação do governo federal. As crianças ingressam no trabalho a partir dos 6 ou 7 anos.
Trabalham em média dez horas, em troca de uma remuneração que varia de R$ 2,00 a R$ 6,00 por dia. Tais valores são ainda menores se a mão-de-obra for feminina. As crianças trabalham, mas não vêem a cor do dinheiro, porque o pagamento vai direto para a mão dos pais como forma de complementação salarial.
O emprego da mão-de-obra infantil na agricultura pode ser constatado em quase todas as regiões do país, conforme os dados a seguir: São Paulo - colheita de laranjas e indústrias de calçados (convivendo com o cheiro da cola); Rio de Janeiro -colheita da cana-de-açúcar e de laranjas; Goiás - lavouras de tomate; Mato Grosso do Sul -carvoarias e colheita da erva-mate; Bahia - sisal; Alagoas - produção do fumo; Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte - salinas; Paraíba - redes, colchas e mantas; etc. No Nordeste, a maioria das crianças trabalha na cultura da cana-de-açúcar. Somente na Zona da Mata pernambucana são mais de 70 mil crianças e adolescentes, representando 30% da força de trabalho no setor canavieiro. Próximo à moagem da cana-deaçúcar, esse número eleva-se para 120 mil crianças trabalhando. (...)"
SILVA, Benedita da. Opinião. In: Folha de S.Paulo, São Paulo, 12 dez. 1996. p. 1-3.
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